Criar um Site Grátis Fantástico
Formaturas infernais
Formaturas infernais

                                                   Capa do livro Formaturas Infernais

                                                        

Gabe olhou através da pista de dança e fez uma careta. Ele não tinha certeza do por quê
convidou Celeste para o baile, e por quê ela disse sim era outro mistério. Era ainda mais
misterioso agora, vendo-a agarrar Heath McKenzie pelo pescoço com tanta força que
provavelmente Heath estava tendo problemas pra respirar. Os corpos deles se apertavam
em uma massa indivisível enquanto eles balançavam ao som, ignorando o ritmo da música
ecoando pelo salão. As mãos de Heath corriam pelo vestido branco brilhante de Celeste de
forma íntima.
“Que azar, Gabe”
Gabe desviou o olhar do espetáculo que sua companheira estava dando e olhou para seu
amigo que se aproximava.
“Hey, Bry. Tendo uma boa noite?”
“Melhor que você, cara, melhor que você.” Bryan respondeu, sorrindo. Ele ergueu seu
copo de ponche verde que parecia gosma, como se estivesse brindando. Gabe tocou sua
garrafa d’água no copo de Bryan e suspirou.
“Eu não tinha idéia de que Celeste sentia algo por Heath. Ele é o que, ex dela ou alguma
coisa?
Bryan tomou um gole da bebida de aparência sinistra, fez uma careta, e balançou a cabeça.
“Não que eu saiba. Eu nunca sequer tinha visto os dois se falando antes de hoje à noite.”
Os dois olharam para Celeste, que aparentemente tinha perdido alguma coisa que ela
precisava dentro da boca de Heath.
“Huh”, Gabe disse.
“Provavelmente é só o ponche”, Bryan disse tentando ser encorajador. “Eu não sei quantas
pessoas puseram misturas aqui, mas nossa. Ela provavelmente nem sabe que não é você
ali”.
Bryan tomou outro gole e fez outra careta.
“Porque você tá bebendo isso?” Gabe perguntou em voz alta.
Bryan ergueu os ombros. “Eu não sei. Talvez a música comece a soar um pouco menos
patética depois que eu forçar um copo disso aqui pra baixo”.
Gabe balançou a cabeça. “Meus ouvidos são capazes de nunca me perdoar. Eu devia ter
trazido meu iPod”.
“Eu me pergunto onde Clara está. Existe alguma lei que exige que as garotas passem certa
porcentagem da noite juntas no banheiro durante um evento?”

“Sim. Duras penalidades para as garotas que não atingirem a cota.”
Bryan riu uma vez, mas aí seu sorriso desapareceu e ele brincou com sua gravata borboleta
por um momento. “Sobre Clara…”, ele começou.
“Você não precisa dizer nada”, Gabe o assegurou. “Ela é uma garota incrível. E vocês são
perfeitos um para o outro. Eu teria que ser cego pra não ver isso.”
“Você realmente não se importa?”
“Eu te disse pra convidá-la para o baile, não disse?”
“É, você disse. Sir Galahad faz mais um par. Sério, cara, você pensa em si mesmo?”
“Claro, todas as horas de uma hora. E, ei, falando de Clara… é melhor que ela se divirta
bastante hoje à noite senão eu vou quebrar o seu nariz.” Gabe sorriu abertamente.
“Eu e ela ainda somos bons amigos - não pense que eu não vou chamá-la pra perguntar.”
Bryan revirou os olhos, mas de repente achou isso um pouco difícil de engolir. Se Gabe
Christensen queria quebrar seu nariz, ele não teria muitos problemas pra fazer isso - Gabe
não se importava em machucar os nós dos dedos e nem de quebrar seu recorde permanente
se isso significava que ele ia arrumar uma coisa que estava errada ao seu ponto de vista.
“Eu vou tomar conta de Clara”, Bryan disse, desejando que as palavras não soassem tanto
como um juramento. Havia algo em Gabe e seus olhos azuis penetrantes que te faziam se
sentir daquele jeito - como se você pudesse fazer o seu melhor em qualquer tarefa. Isso era
muito irritante às vezes. Com uma careta, Bryan jogou o resto do seu ponche no musgo
morto de uma árvore falsa. “Isso se ela sair do banheiro.”
“Bom, cara” Gabe disse, aprovando, mas o sorriso dele caiu em um dos lados. Celeste e
Heath haviam desaparecido na multidão.
Gabe não tinha certeza de qual era o protocolo quando você levava um pé na bunda no
meio de um baile. Como ele podia ter certeza de que ela chegaria em casa à salvo? Esse
era um trabalho para Heath agora? Gabe se perguntou de novo por que ele convidou
Celeste para o baile.
Ela era uma garota muito bonita - uma participante de concursos de beleza. Um cabelo
loiro perfeito - tão cheio que chegava a ser fofo - grandes olhos castanhos, e lábios curvos
que estavam sempre pintados na cor rosa. Ela tinha feito o cérebro dele se desligar com o
vestido curto e apertado que usou esta noite.
No entanto, a beleza dela não foi o que chamou sua atenção. A razão era outra
completamente diferente.
Era estúpido e vergonhoso, na verdade. Gabe nunca, jamais, contaria a ninguém sobre
isso, mas de vez em quando, ele tinha uma estranha sensação de que alguém estava
precisando de ajuda. Precisava dele. ele teve essa sensação estranha com Celeste, como se
a formosa loira fosse houvesse donzela em perigo escondida por trás daquela maquiagem
perfeita.

Muito estúpido, e obviamente errado. Celeste não parecia interessada em nenhuma ajuda
vinda de Gabe agora.
Ele procurou no salão novamente, mas não conseguiu avistar o cabelo dourado dela em
lugar algum na multidão. Ele suspirou.
“Hey, Bry. Sentiu minha falta?” Clara, com seus cabelos escuros cheios de glitter, se
separou de um grupo de fêmeas e se juntou a eles na parede. O resto do grupo se
dispersou. “Hey, Gabe. Onde está Celeste?”
Bryan colocou o braço ao redor dos ombros dela. “eu pensei que você tivesse ido embora.
Eu acho que vou ter que cancelar os planos quentes que eu tinha marcado com -”
O cotovelo de Clara acertou Bryan no plexo solar.
“A Sra. Finkle”, Bryan continuou, resfolegando as palavras e fazendo um gesto com a
cabeça em direção à vice diretora que olhava tudo de um canto mais distante da sala,
distante das caixas de som.
“Nós íamos emitir notas de falha à luz de velas”.
“Bem, eu não iria querer perder isso! eu acho que vi o Treinador Lauder perto dos
biscoitos. Talvez eu possa conversar com ele pra dar uma aumentadinha nas minhas
notas.”
“Ou talvez a gente possa só dançar”, Bryan sugeriu.
“Claro, eu posso fazer isso”.
Rindo, eles se espremeram abrindo caminho até o salão de dança, as mãos de Bryan
segurando Clara pela cintura.
Gabe estava feliz por Clara não ter esperado uma resposta para a sua pergunta. Era um
pouco vergonhoso que ele não tivesse uma resposta.
“Hey, Gabe. Cadê a Celeste?”
Gabe fez uma careta e se virou ao som da voz de Logan.
Logan também estava sozinho no momento. Talvez fosse a vez da acompanhante dele de
exibir aquele comportamento de união ao grupo.
“Eu não sei dizer”, Gabe admitiu. “Você a viu?”
Logan torceu seus lábios cheios por um momento, como se estivesse debatendo se devia
ou não dizer alguma coisa. Ele passou a mão nervosamente pelo cabelo preto espetado.
“Bem, eu acho que vi. Porém, eu não tenho certeza… Ela tá usando um vestido branco,
né?”
“É - onde ela está?”
“Eu acho que a vi no lobby. Não tenho certeza. O rosto dela era meio difícil de ver… O
rosto de David Alvarado estava na frente…”

“David Alvarado?” Gabe repetiu surpreso. “Não era Heath McKenzie?”
“Heath? Não. Definitivamente era David”.
Heath era claro, loiro e alto. David mal conseguia atingir um metro e sessenta; a pele dele
tinha cor de oliva e os cabelos dele eram pretos. Não tinha jeito de confundir os dois.
Logan balançou a cabeça tristemente. “Eu lamento, Gabe. Isso é uma droga”.
“Não se preocupe com isso”.
“Pelo menos você não precisa ficar no navio naufragado sozinho”, Logan disse
externamente.
“Sério? O que aconteceu com a sua acompanhante?”
Logan ergueu os ombros. “Ela está por aqui, em algum lugar, encarando todo mundo. Ela
não quer dançar, ela não quer conversar, ela não quer ponche, ela não quer tirar fotos, e ela
não quer minha companhia”. Ele marcou cada uma das negativas em seus dedos. “Pra
começo de história eu nem sei porque ela me convidou. Ela provavelmente só queria
mostrar o vestido - é quente, isso eu admito. Mas ela não parece se importar em mostrar
nada agora… Eu queria ter convidado outra pessoa.” Os olhos de Logan observaram
saudosamente um grupo de garotas dançando num grupo livre de garotos. Gabe pensou ter
visto Logan observar uma garota em particular.
“Porque você não convida Libby?”
Logan suspirou. “Eu não sei. Eu acho… Mas eu acho que ela teria gostado se eu a tivesse
convidado. Oh, bem.”
“Quem é a sua acompanhante?”
“Aquela garota nova, Sheba. Ela é um pouco intensa, mas muito linda, meio exótica. Eu
estava chocado demais pra dizer alguma coisa além de ’sim’ quando ela me convidou pra
vir com ela. Eu realmente achei que ela, bem, que ela podia ser… divertida.” Logan
terminou, infeliz. O que ele realmente pensou quando Sheba simplesmente ordenou que
ele fosse ao baile com ela não parecia ser inteiramente apropriado pra dizer em voz alta,
especialmente pra Gabe; muitas coisas pareciam ser inapropriadas na frente de Gabe. Com
Sheba era exatamente o contrário. Quando ele deu uma olhada naquele vestido de couro
vermelho inacreditável, a cabeça dele ficou cheia de idéias que de alguma forma não
pareciam nem um pouco inapropriadas quando os olhos profundos e escuros dela focaram
nele.
“Eu acho que não a conheci”, Gabe disse, interrompendo a breve fantasia de Logan.
“Se você tivesse conhecido, você lembraria.” Apesar de Sheba ter esquecido bem
rapidamente de Logan quando eles passaram pela porta, não foi? “Ei, você acha que Libby
veio sozinha? Eu não ouvi nada sobre alguém ter convidado ela…”
“Er… Ela veio com o Dylan”

“Oh”, Logan disse, arrasado. Aí ele deu um meio sorriso. “A noite já está ruim o suficiente
sem ter que ser torturado além de tudo - não era pra eles terem uma banda? Esse DJ…”
“eu sei, é como se estivéssemos sendo punidos por nossos pecados”, Gabe disse com uma
risada.
“Pecados? Como se você tivesse algum, Galahad, o Puro”.
“Você tá brincando? Eu mal consegui sair da suspensão a tempo de vir pra cá”. É claro,
naquele momento Gabe estava desejando que o tempo não tivesse ajudado tanto. “Eu
tenho sorte por não ter sido expulso”.
“O Sr. Reese já sabia que isso ia acontecer. Todo mundo sabe disso”.
“É, ele sabia”, Gabe disse, um tom repentino tornando sua voz penetrante. Todos na escola
tinham um pé atrás com o Sr. Reese, mas não havia muita coisa que eles pudessem fazer
até que o professor de matemática cruzasse uma linha que não devia ter cruzado. Todos
das classes avançadas também sabiam sobre o Sr. Reese, mas Gabe não estava disposto a
ficar sentado enquanto ele perseguia aquele pobre garoto novato… Mesmo assim,
nocautear o professor era um pouco extremo. Provavelmente havia uma forma melhor de
resolver aquela situação. Os pais dele, no entanto, o apoiaram como sempre.
Logan interrompeu seus pensamentos. “Talvez a gente deva ir embora”, Logan disse.
“Eu me sentiria mal se Celeste precisasse de ajuda pra ir embora…”
“Aquela garota não é o seu tipo, Gabe”. Ela é puro mal e uma vagabunda de marca maior,
Logan podia ter completado, mas aquele não era o tipo de coisa que você queria dizer
sobre qualquer garota enquanto Gabe estivesse ouvindo. “Deixe ela pegar uma carona com
o cara que tá enfiando a língua na garganta dela”.
Gabe suspirou e balançou a cabeça. “Eu vou esperar pra ter certeza de que ela vai ficar
bem”.
Logan rugiu. “Eu não consigo acreditar que você a convidou. Bem, será que dá pra nós
escaparmos pelo menos até eles arrumarem algusn CD’s decentes? Aí a gente podia
seqüestrar aquele monte de droga que o DJ tá tocando…”
“Eu gosto da sua forma de pensar. Eu me pergunto se o motorista da limusine ia se
importar em dar uma paradinha em um lugar…”
Logan e Gabe acabaram a discussão de brincadeira sobre quais seriam os melhores CDs
pra seqüestrar - os cinco favoritos eram óbvios, mas daí pra baixo a lista era mais subjetiva
- os dois estavam se divertindo mais do que tinham se divertido a noite inteira.
Era engraçado, mas enquanto eles faziam piadas, Gabe teve a sensação de que eles eram
os únicos se divertindo. Todos no salão pareciam de mau humor por algum motivo. E lá
no canto, perto da badeja de biscoitos, parecia que uma garota estava chorando. Aquela
não era Evie Hess? E outra garota, Ursula Tatum, também estava com os olhos vermelhos
e com o rímel escorrendo. Talvez a música e o ponche não fossem as únicas coisas nesse
baile que não prestavam. Clara e Bryan pareciam felizes, mas além desses dois, Gabe eLogan - ambos recentemente humilhados e rejeitados - pareciam estar se divertindo mais do que todo mundo.

Menos perspectivo que Gabe, Logan não registrou a atmosfera negativa até que Libby e
Dylan começaram discutir; abruptamente, Libby saiu marchando do salão de dança. Isso
chamou a atenção dele imediatamente.
Logan mudou de posição, os olhos dele grudados à figura em movimento de Libby. “Hey,
Gabe. Você se importa se eu te deixar?”
“Nem um pouco. Vai nessa”.
Logan quase saltou atrás dela.
Gabe não tinha certeza do que ele mesmo devia fazer. Será que ele devia procurar Celeste
e perguntar se ela se importava se ele fosse embora? No entanto, ele não estava
inteiramente confortável com a idéia de ter que separa-la de outra pessoa para perguntar.
Ele decidiu tomar outra garrafa de água e encontrar um canto o mais quieto possível para
esperar enquanto a noite se arrastava.
E aí, enquanto ele ia procurar o canto quieto, Gabe sentiu aquela estranha sensação de
novo, mais forte do que ele já havia sentido em sua vida; era como se alguém estivesse
afundando em águas negras e gritando pra que ele ajudasse. Ele olhou ao redor
freneticamente, imaginando de onde estaria vindo o chamado urgente. Ele não conseguia
entender a tensão vital, pulsante da preocupação dele. Não era parecido com nada que ele
tivesse sentido antes.
Só por um momento, os olhos dele se fixaram em uma garota - de costas, enquanto ela se
afastava dele. O cabelo dessa garota era preto e brilhante, como um espelho. Ela usava um
espetacular vestido longo com cor de chamas. Enquanto Gabe observava, os brincos dela
refletiram uma vez, como pequenas faíscas vermelhas.
Gabe começou a caminhar atrás dela, num movimento quase inconsciente, atraído por
aquela necessidade sufocante que emanava dela. Ela se virou um pouco, e ele deu uma
olhada num perfil pálido, aquilino que era desconhecido pra ele - lábios cheios cor de
marfim e sobrancelhas pretas - antes que ela entrasse no banheiro feminino.
Gabe estava respirando duramente pelo esforço de não seguir a garota até a terra do “não
permitida a entrada de homens”. Ele podia sentir a necessidade dela sugando-o como areia
movediça. Ele encostou na parede que dava de frente para a porta do banheiro, cruzou os
braços sobre o peito, e tentou se convencer a esperar aquela garota. Esse instinto lunático
dele estava muito fora de controle. Celeste não era prova disso? Isso tudo era só
imaginação.
Talvez ele devesse ir embora agora.
Mas Gabe não conseguiu fazer seus pés se moverem nem um passo.
Apesar dessa garota mal alcançar 1,60m com seus saltos agulha, alguma coisa em sua
figura magra - fina como uma espada de esgrima - fazia ela parecer alta.

Ela era uma contradição ambulante, e não apenas no que se tratava da sua altura - ela tinha
pele pálida e cabelos pretos como tinta, ambos eram delicados e duros com a sua feição
pequena e afiada, e ambos eram atraentes e repelentes com as ofuscantes ondulações de
seu corpo, sob a expressão hostil de seu rosto.
Apenas uma coisa nela não era ambígua - seu vestido era, sem dúvida, uma obra de arte:
labaredas de fogo em couro deixavam seus ombros nus e abraçavam suas curvas finas até
beijarem o chão. Enquanto ela cruzava o salão de dança, olhos femininos seguiram o
caminho de seu vestido com inveja e os olhos masculinos o seguiram com luxúria.
Havia outro fenômeno que a seguia; enquanto a garota com o vestido ígneo passava pelos
dançarinos, pequenas exclamações de horror e dor e vergonha a cercaram em estranhos
redemoinhos que só podiam ser uma coincidência. Um salto se quebrou, contorcendo o
tornozelo que o estava usando. Um vestido de cetim se rasgou da coxa até a cintura com
um ruído. Uma lente de contato saltou fora e se perdeu no chão sujo. Um sutiã com
enchimento se partiu em dois. Uma carteira pulou de um bolso. Uma câimbra anunciou
uma menstruação que chagava fora de hora. Um colar emprestado se partiu numa chuva de
pérolas pelo chão.
E continuou - pequenos desastres girando em círculos de infelicidade.
A pálida garota escura sorriu para si mesma, como se de alguma forma ela conseguisse
sentir a infelicidade no ar e gostasse disso - sentisse o gosto, talvez, considerando a forma
como ela lambeu os lábios apreciativamente.
E aí ela fez uma careta, enrugando a testa em profunda concentração. O único garoto que
estava observando seu rosto viu um estranho brilho próximo aos lóbulos de suas orelhas,
como pequenas faíscas vermelhas. Todo mundo se virou nesse exato momento para ver
Brody Farrow, que segurou seu próprio braço e gritou de dor; o leve movimento da dança
lenta fez seu ombro se deslocar.
A garota no vestido vermelho sorriu maliciosamente.
Com seus saltos batendo agudamente no chão, ela caminhou corredor abaixo até o
banheiro feminino. Leves gemidos de dor e infelicidade a acompanharam.
Uma multidão de garotas vagavam na frente dos grandes espelhos dentro do banheiro.
Elas tiveram apenas um momento para olhar o vestido arrebatador, para reparar em como
a pequena garota usando-o tremeu brevemente naquele banheiro cheiro, acalorado, antes
que o caos as distraísse. Começou com Emma Roland furando o próprio olho com um
aplicador de rímel. Ela se moveu agitada, acertando o copo cheio de ponche na mão de
Bethany Crandall, que aí encharcou Bethany e deixou outros três vestidos transparentes
em lugares muito inconvenientes. De repente a atmosfera no banheiro ficou mais quente
do que a temperatura, quando uma garota - com uma mancha verde horrorosa no peito -
acusou Bethany de jogar o ponche nela propositalmente.
A garota pálida escura apenas sorriu um pouco para a briga eminente, e depois andou para
a cabine mais distante no longo banheiro e trancou a porta atrás dela.

Ela não usou a privacidade da forma como seria esperado. Ao invés disso - demonstrando
não sentir nenhum medo do clima menos que amigável - a garota inclinou-se e encostou a
testa na parede de metal e fechou os olhos com força. As mãos, fechadas em pequenos
punhos furiosos, também descansaram no metal, como se procurassem suporte.
Se alguma das garotas no banheiro feminino estivesse prestando atenção, elas podiam ter
se perguntado o que estaria causando o brilho vermelho que brilhava fracamente pelo
buraquinho entre a porta e a parede. Mas ninguém estava prestando atenção.
A garota de vestido vermelho apertou os dentes com força. Por entre eles, um jato quente
de chama brilhante saiu e desenhou padrões pretos na fina camada de tinta da parede de
metal. Ela começou a arquejar, lutando com um peso invisível, e o foto queimou com mais
força, dedos grossos de fogo atacando o metal frio. O fogo alcançou seu cabelo, mas não
queimou as mechas macias, negras. Traços de fumaça começaram a escapar de suas
narinas e ouvidos.
Um chuveiro de faíscas saltou de seus ouvidos enquanto ela sussurrava uma palavra
através de seus dentes.
“Melissa”.
Lá fora na pista de dança, Melissa Harris olhou pra cima, distraída. Alguém chamou seu
nome? Não parecia haver ninguém perto o suficiente pra ser o responsável pelo som baixo.
Então, foi apenas imaginação. Melissa olhou de volta para seu acompanhante e tentou se
concentrar no que ele estava dizendo.
Melissa se perguntou porque ela havia aceitado ir ao baile com Cooper Silverdale. Ele não
era seu tipo. Um garoto pequeno, consumido por sua própria importância, com coisas
demais para provar. Ele esteve estranhamente hiperativo a noite inteira, tagarelando sobre
sua família e suas inacabáveis posses, e Melissa estava cansada disso.
Outro fraco sussurro chamou a atenção de Melissa, e ela se virou.
Lá, longe demais na multidão para ser a fonte por trás do som, Tyson Bell estava olhando
para Melissa por cima da cabeça da garota com quem ele estava dançando. Melissa olhou
pra baixo imediatamente, estremecendo, tentando não se importar com quem estava com
ele, se forçando a não olhar.
Ela se moveu mais pra perto de Cooper. Chato e superficial, talvez, mas melhor que
Tyson. Qualquer um era melhor que Tyson.
Sério? Cooper era a melhor opção? As perguntas saltavam nos pensamentos de Melissa
como se elas estivessem vindo de outra pessoa. Involuntariamente, ela olhou nos olhos
escuros e com cílios pesados de Tyson. Ele ainda estava encarando.
É claro que Cooper era melhor que Tyson, não importava o quanto Tyson fosse lindo. A
beleza era apenas uma parte da armadilha.
Cooper continuou tagarelando, tropeçando nas palavras enquanto tentava capturar o
interesse de Melissa.

Você é areia demais para o caminhãozinho de Cooper, o pensamento sussurrou. Melissa
balançou a cabeça, envergonhada por pensar daquele jeito. Era vaidade. Cooper era tão
bom quanto era, tão bom quanto qualquer outro garoto.
Não tão bom quanto Tyson. Lembre-se de como era…
Melissa tentou manter a imagem longe de sua mente: os olhos cálidos de Tyson, cheios de
desejo… as mãos dele, duras e macias em sua pele… sua voz rica que fazia as palavras
mais comuns soarem como poesia… a forma como a mais leve pressão dos lábios dele nos
dedos dela podiam fazer a pulsação dela saltar nas veias…
O coração dela pulou, dolorido.
Deliberadamente, Melissa dragou uma nova memória para combater as imagens rebeldes.
O pulso de aço de Tyson batendo em seu rosto sem maiores avisos - os pontos pretos
aparecendo na frente dos seus olhos - as mãos dela se segurando ao chão - vômito subindo
pela sua garganta - uma dor crua fazendo seu corpo inteiro tremer.
Ele lamentava. Lamentava muito. Ele prometeu. Nunca aconteceria de novo. Sem querer,
a imagem dos olhos cor de café de Tyson nadando em lágrimas anuviou sua visão.
Reflexivamente, os olhos de Melissa procuraram Tyson. Ele ainda estava encarando. A
testa dele estava enrugada, as sobrancelhas dele estava unidas, mergulhadas em pesar…
Melissa estremeceu de novo.
“Você está com frio? Você quer o meu -?” Cooper ia tirando a jaqueta do seu smoking e aí
parou, ficando vermelho. “Você não pode estar com frio. Está muito quente aqui”, ele
disse bobamente enquanto desfazia a oferta, abotoando novamente a jaqueta.
“Eu estou bem”, Melissa assegurou. Ela se forçou a olhar para seu rosto sem graça,
infantil.
“Esse lugar está uma droga”, Cooper disse e Melissa balançou a cabeça, feliz por
concordar com ele. “A gente podia ir pro country clube do meu pai. Tem um restaurante
incrível lá, se você estiver a fim de uma sobremesa.. não vamos ter que esperar por uma
mesa. Assim que eu mencionar meu nome…”
A atenção de Melissa vagou novamente.
Por que eu estou aqui com esse esnobe? Perguntou o pensamento que era tão não-familiar
em sua cabeça, apesar dele estar vindo em sua própria voz. Ele é um fraco. E daí se ele
não consegue magoar um gatinho? Não há mais para amar do que segurança? Eu não sinto
a mesma necessidade no estômago com Cooper - quando eu olho para alguém além de
Tyson… Eu não posso mentir pra mim mesma. Eu ainda o quero. Muito. Isso não é amor,
esse querer?
Melissa desejou não ter bebido tanto daquele ponche vil, forte. Era impossível pensar com
clareza.

Ela observou enquanto Tyson abandonava sua acompanhante encalhada e cruzava o salão
até ficar bem na frente dela - o clichê perfeito de jogador de futebol com ombros largos.
Era como se Cooper não existisse lá entre eles.
“Melissa”, ele perguntou com sua voz derretendo, tristeza distorcendo suas feições.
“Melissa, por favor!” Ele ergueu a mão na direção dela, ignorando o ataque silencioso que
Cooper estava tendo.
Sim, sim, sim, sim, sim, cantou a cabeça dela.
Uma centena de memórias de desejos passaram voando por ela. Sua mente anuviada
estava presa. Hesitantemente, Melissa balançou a cabeça.
Tyson sorriu de alívio, de alegria, e a puxou por Cooper trazendo-a para seus braços.
Simplesmente era fácil demais ir com ele. o sangue de Melissa correu em suas veias como
fogo.
“Sim!” A pálida garota escura assobiou, escondida em sua cabine, e uma língua de fogo
iluminou seu rosto em vermelho. O fogo estalou alto o suficiente para que alguém tivesse
ouvido se o banheiro ainda não estivesse cheio de vozes agudas aumentadas em irritação.
O fogo retrocedeu, e a garota respirou profundamente. Suas pálpebras flutuaram por um
momento, e se fecharam novamente. Seus pulsos se apertaram até que pareceu que sua
pele pálida ia se rasgar nos cumes afiados dos nós das suas mãos. Sua figura magra
começo a tremer como se estivesse se esforçando para erguer uma montanha. Tensão e
determinação e expectativa eram uma aura praticamente visível ao seu redor.
Fosse qual fosse a difícil tarefa que ela havia tomado pra si agora, estava claro que
completa-la era mais importante do que qualquer outra coisa.
“Cooper”, ela assobiou, e fogo jorrou de sua boca, seu nariz, seus ouvidos. Chamas
engoliram sua face.
Como se fosse não fosse absolutamente nada. Como se você fosse invisível. Como se você
não existisse! Cooper tremia de fúria, e as palavras alimentadas de raiva em sua mente
fizeram seu corpo ferver. Você podia fazê-la te enxergar. Você podia mostrar a Tyson
quem é o homem de verdade. Automaticamente sua mão foi em direção ao volume pesado
escondido em sua jaqueta, na parte baixa de suas costas. O choque de se lembrar da arma
atravessou a raiva, e o fez piscar rapidamente, como se ele tivesse acabado de acordar de
um sonho. Uma linha de arrepios atravessou seu pescoço. O que ele estava fazendo com
uma arma no baile? Ele estava louco?
Era uma coisa tão estúpida, mas naquele também, o que mais ele podia fazer quando
Warren Beeds começou com mais uma daquelas fanfarrices estúpidas? Claro, a segurança
da escola era uma droga, qualquer um podia entrar do jeito que quisesse. Ele acabou
provar isso, não foi? Mas valia a pena ter uma arma nas costas só pra se mostrar pra
Warren Beeds?
Ele podia ver Melissa, sua cabeça no ombro daquele atleta estúpido, com os olhos
fechados. Ela esqueceu Cooper completamente?

Fúria começou a tomar conta de novo; as mãos dele se curvaram nas costas dele.
Cooper sacudiu a cabeça ainda mais vigorosamente dessa vez. Loucura. Não foi por isso
que ele trouxe a arma… Era uma piada, uma peça.
Mas olhe para Tyson. Olhe para aquele sorriso superior, convencido no rosto dele! quem
ele pensa que ele é? O pai dele não é nada além de um jardineiro com méritos! Ele não
teme que eu vá fazer nada sobre o fato dele ter roubado a minha acompanhante. Ele nem
se lembra que eu a trouxe. Ele não teria medo de mim se lembrasse. E Melissa não lembra
que eu existo.
Cooper apertou os dentes, queimando de ressentimento novamente. Ele imaginou a
expressão superior no rosto de Tyson desaparecendo, se transformando em horror e medo
enquanto ele olhava para o cano da arma.
Medo frio fez com que Cooper voltasse à realidade num estalo.
Ponche. Mais ponche, é disso que eu preciso. É uma coisa barata, nojenta, mas pelo menos
é forte. Mais alguns copos de ponche e eu saberei o que fazer.
Respirando profundamente para se firmar,Cooper correu até a mesa de refrescos.
A garota escura no banheiro fez uma careta e balançou a cabeça de irritação. Ela respirou
profundamente duas vezes e sussurrou duas palavras calmantes pra si mesma num
murmúrio gutural.
“Há tempo suficiente. Um pouco mais de álcool anuviando a mente dele, tomando conta
das duas vontades… paciência. Ainda há muito mais o que fazer, tantos outros detalhes…”
Ela apertou os dentes e suas pálpebras flutuaram novamente, dessa vez por mais tempo.
“Primeiro Matt e Louisa, depois Bryan e Clara”, ela disse a si mesma, como se estivesse
olhando uma lista de tarefas. “Ugh! Depois aquele Gabe que fica interferindo! Porque ele
ainda não está infeliz?” Ela respirou novamente pra se firmar. “Está na hora da minha
pequena ajudante voltar ao trabalho”.
Ela pressionou os punhos às têmporas e fechou os olhos.
“Celeste”, ela estalou.
A voz na cabeça de Celeste era familiar, até bem vinda. Todas as suas melhores idéias
vinham assim ultimamente. Matt e Louisa não parecem confortáveis?
Celeste olhou em direção ao casal, em duvida.
Alguém se divertindo? Aquilo realmente era aceitável?
“Eu tenho que ir…” Celeste olhou pro rosto do seu parceiro, procurando por seu nome-
“Derek”.
Os dedos do garoto, subindo pelas costelas dela, congelaram em choque.
“Foi divertido”, Celeste assegurou, esfregando as costas das mãos dela em sua boa aberta,
como se estivesse fosse pra apagar vestígios dele. Ela se libertou.

“Mas, Celeste… Eu pensei…”
“Agora, tchau”.
O sorriso de Celeste era afiado como a lâmina de uma navalha enquanto ela andou em
direção a Matt Franklin e sua acompanhante, uma ratinha cujo nome ela nem lembrava.
Por um breve segundo ela lembrou do seu acompanhante oficial - Gabe Christensen, tão
limpo que brilhava - e teve vontade de rir. Que noite legal ele deve estar tendo! A
humilhação que ela o estava fazendo passar fez valer à pena ter vindo com ele, apesar dela
não conseguir imaginar no que ela estava pensando quando disse sim. Celeste balançou a
cabeça pela memória irritante. Gabe tinha virado seus olhos azuis inocentes pra ela, e - por
meio minuto - ela quis dizer sim. Ela queria chegar mais perto dele. naquele breve
momento ela pensou em abrir mão de seu delicioso esquema e simplesmente se divertir no
baile com um cara legal.
Uau, ela estava feliz por aquela atitude boazinha ter desaparecido. Celeste nunca se
divertiu mais na vida do que estava se divertindo agora. Ela havia arruinado o baile para
metade das garotas no salão, e tinha metade dos garotos lutando por ela. Garotos era todos
a mesma coisa, e todos eles estavam só esperando que ela os pegasse. Estava na hora das
outras garotas verem isso. Que maravilhosa inspiração tinha sido essa conspiração pra
dominar totalmente o baile!
“Hey, Matt”, Celeste chamou, tocando-o no ombro.
“Oh, hey”, Matt respondeu, desviando o olhar da sua acompanhante com uma expressão
confusa.
“Posso te pegar emprestado por um momento?” Celeste perguntou, fazendo seus cílios
flutuarem e jogando os ombros pra trás pra fazer a luz bater no ponto certo do seu decote.
“Tem uma coisa que eu quero, er, mostrar pra você.” Celeste passou a língua pelos lábios.
“Um”, Matt engoliu fazendo um barulho.
Celeste sentiu os olhos do seu último companheiro perfurando suas costas, e ela lembrou
que Matt era seu melhor amigo. Ela segurou uma risada. Que perfeito.
“Matt?” A acompanhante dele perguntou em um tom magoado enquanto as mãos dele
caiam da cintura dela.
“Só vai demorar um segundo… Louisa”.
Ha! Nem ele mesmo conseguia lembrar direito o nome dela! Celeste jogou um sorriso
deslumbrante pra ele.
“Matt?” Louisa chamou de novo, chocada e magoada, enquanto Matt pegou a mão de
Celeste e a seguiu à caminho do centro da pista de dança.
A última cabine do banheiro estava escura agora. A garota lá dentro se chocou contra a
parede, esperando enquanto sua respiração normalizava. A despeito do fato de que o ar no
banheiro estava desconfortavelmente quente agora, a garota estava tremendo.

A briga no banheiro estava resolvida, e um novo grupo de garotas fazia uma multidão na
frente do grande espelho para retocar a maquiagem.
A respiradora de fogo se recompôs, e aí saiu outra faísca vermelha dos seus ouvidos; todo
mundo na frente do espelho se virou em expectativa pra olhar a porta do banheiro
feminino enquanto a garota com o vestido vermelho saia da cabine e abria uma janela
baixa. Ninguém viu quando ela escapou pela saída incomum. Elas continuaram olhando
para a porta, procurando pelo som que as havia feito se virar.
A Miami grudenta, úmida, era tão desconfortável como se eles estivessem tentando
rivalizar com o inferno. Em seu grosso vestido de couro, a garota deu um sorriso aliviado
e esfregou os braços com as mãos.
Ela deixou seu corpo descansar contra um lixão encardido que havia ali perto, e se
inclinou em direção à tampa aberta onde a quantidade de comida estragada parecia uma
nuvem pesada. Seus olhos se fecharam, aí ela inalou profundamente e sorriu de novo.
Outro cheiro, ainda mais vil - algo parecido com carne queimada, rançosa, mas pior -
encheu o ar abafado. O sorriso da garota cresceu mais ainda como se ela sentisse nesse
odor doloroso, o mais raro de todos os perfumes.
E aí os olhos dela se abriram e seu corpo ficou ereto e rígido.
Uma risada baixa saída da escuridão aveludada.
“Sentindo saudade de casa, Sheeb?” A voz de uma mulher ronronou.
Os lábios da garota se contorceram em uma careta enquanto o corpo ao qual a voz
pertencia aparecia.
A deslumbrante mulher de cabelos escuros parecia estar vestindo nada além de uma
preguiçosa névoa escura. Suas pernas e pés estavam invisíveis - talvez nem estivessem ali.
Alto, em sua testa estavam dois pequenos chifres polidos de ônix.
“Chez Jezebel aut Baal-Malphus”, a garota de vestido vermelho rosnou. “O que você está
fazendo aqui?”
“Tão formal, irmãzinha?”
“O que me importam as irmãs?”
“Verdade. O nosso parentesco é dividido com milhares… Mas esse bocado é tão difícil de
engolir. Por que você não me chama apenas de Jez, e eu vou pular a parte do Chex Sheba
aut Baal-Malphus e te chamo de Sheeb”.
Sheba rufiu, sem achar graça. “Eu pensei que você tivesse uma missão em Nova York”.
“Só dando um tempo, como você, aparentemente”. Jezebel olhou como se apontasse o
local de descanso de Sheba. “Nova York é fabulosa - quase tão maldosa quanto o inferno,
obrigada por perguntar - mas até mesmo os assassinos dormem de vez em quando. Eu
fiquei de saco cheio, então vim aqui ver se você estava se divertindo no baaaaaaai-le”,
Jezebel riu. A névoa ao seu redor dançou.

Sheba fez uma careta mas não respondeu.
A mente dela estava em alerta enquanto ela focava de volta nos adolescentes inocentes
dentro do salão de baile do hotel, procurando por interferências. Jezebel estava aqui pra
estragar os planos de Sheba? O que mais? A maioria dos meio-demônios andaria milhas
fora de seus caminhos só pra zombar de uma novata - chegariam até mesmo ao ponto de
fazer alguma coisa boa. Balan Lilith Hadad aut Hamon uma vez se disfarçou de humana
em uma das escolas onde Sheba havia estado, cerca de uma década antes. Sheba não
conseguia entender porque os malfeitos dela estavam se transformando em finais felizes.
Aí, quando ela descobriu, ela mal conseguiu acreditar que a Lilith - a perigosa demônia
realmente havia orquestrado três casos de amor verdadeiro, só pra desmontar Sheba!
Para sorte de Sheba, ela conseguiu sair com uma traição no último minuto, e acabou com
dois romances. Sheba respirou profundamente. Aquela passou bem perto. Ela podia ter
sido enxotada de volta pra o ginásio!
Sheba fez uma careta para a suculenta demônia flutuando em frente a ela agora. se Sheba
tivesse um trabalho de sonhos como o de Jezebel - um demônio homicida! As coisas não
podiam ser muito melhores que isso - Sheba poderia aderir aos caos e esquecer os truques
insignificantes.
Os pensamentos de Sheba se enrolaram como fumaça invisível através dos dançarinos no
prédio atrás dela, procurando por qualquer sinal de traição. Mas tudo continuava com
devia estar. A infelicidade no salão estava alcançando novos patamares. O sabor de
infelicidade humana encheu sua mente. Delicioso
Jezebel gargalhou, compreendendo exatamente o que Sheba estava fazendo.
“Relaxe”, Jezebel disse. “Eu não estou aqui pra te causar problema algum”.
Sheba rosnou. É claro que Jezebel estava aqui pra causar problemas. Era isso que
demônios faziam.
“Belo vestido”, Jezebel notou. “Pele de cão do inferno. Ótimo para instigar inveja e
luxúria”.
“Eu sei como fazer o meu trabalho”.
Jezebel riu de novo, e Sheba se inclinou instintivamente para pegar o gosto penetrante do
seu hálito.
“Pobre Sheeb, ainda presa na forma meio humana”. Jezebel zombou. “Eu me lembro de
como tudo cheira bem o tempo inteiro. Ugh. E a temperatura! Será que os humanos
precisam congelar tudo com seus ar-condicionados odiosos?”
O rosto de Sheba estava suave agora, controlado. “Eu me viro. Há muita miséria pra ser
espalhada.”
“Esse é o espírito! Só mais alguns séculos, e você estará no lance alto comigo”.

Sheba permitiu que um sorriso malicioso curvasse seus lábios. “Ou talvez não tanto
tempo.”
Uma sobrancelha preta arqueou na testa branca de Jezebel, chegando quase a alcançar o
chifre cor de ébano.
“É mesmo? Tem alguma coisa particularmente má escondida na manga, irmãzinha?”
Sheba não respondeu, ficando tensa novamente enquanto Jezebel fez com que seus
próprios pensamentos se esgueirassem pela multidão dentro do salão de baile. Sheba
travou sua mandíbula, pronta pra contra-atacar se Jezebel tentasse um de seus esquemas.
Mas Jezebel apenas olhou, sem tocar ninguém.
“Hmm”, Jezebel disse pra si mesma. “Hmm”.
Os pulsos de Sheba se fecharam com força quando os pensamentos de Jezebel tocaram
Cooper Silverdale, mas mais uma vez, Jezebel apenas observou.
“Bem, bem”, a demônia de chifres murmurou. “Uau. Sheeb, eu tenho que dizer, eu estou
impressionada. Você fez uma arma entrar. E usou um monte de álcool para enfraquecer o
livre arbítrio dele!” A demônia mais velha sorriu com algo que parecia estranhamente com
sinceridade. “Isso é muito mau. Quer dizer, claro, um meio demônio trabalhando com
homicídios ou caos ou talvez revoltas pode acabar resultando isso num baile, mas uma
criança na forma humana com detalhes de infelicidade? Você tem o que, duzentos,
trezentos?”
“Só cento e oitenta e seis, mais o meu juízo final”, Sheba respondeu bruscamente, ainda
cautelosa.
Jezebel assobiou uma labareda de fogo através de seus dentes. “Muito impressionante. E
dá pra ver que você também não está ignorando a sua missão. Tem uma multidão de
miseráveis aí dentro.” Jezebel riu. “Você acabou com quase todos os relacionamentos
promissores, quebrou dezenas de amizades de uma vida inteira, fez novos inimigos… três,
quatro, cinco brigas em potencial”, Jezebel contou, sua mente estava com os humanos.
“Você fez até o DJ ouvir você! Que atenção nos detalhes. Ha-ha! Eu posso contar numa
mão só os humanos que não estão completamente devastados.”
Sheba sorriu maliciosamente. “Eu vou chegar neles.”
“Horrível, Sheba. Seriamente mau. Você orgulha seu nome. Se todo baile tivesse uma
demônia como você envolvida, nós íamos comandar esse mundo.”
“Aw, Jez, você está me deixando vermelha”, Sheba disse com sarcasmo pesado.
Jezebel riu. “É claro que você tem uma ajudinha.”
Os pensamentos de Jezebel dançaram ao redor de Celeste, que havia acabado de se
contorcer com outro garoto. Garotas rejeitadas choravam, enquanto os garotos que Celeste
descuidadamente rejeitava flexionavam os pulsos e encaram furiosamente os seus rivais;
queimando de luxúria, cada um deles estava determinado a fazer com que Celeste
terminasse a noite com ele.

Celeste estava fazendo metade do trabalho hoje à noite.
“Eu uso as ferramentas que tenho disponíveis”, Sheba disse.
“Que nome irônico! Que mente maléfica! Ela é completamente humana?”
“Eu fiz uma busca nela no corredor, só pra checar.” Sheba admitiu. “Pura, cheiro de
humana limpa. Revoltante.”
“Huh. Eu juraria que ela tem algum ancestral demoníaco. Belo achado. Mas, Sheba,
chamar um acompanhante? Se envolver fisicamente dessa forma é muito amador.”
O queixo de Sheba se ergueu defensivamente, mas ela não respondeu. Jezebel estava certa;
era inútil e consumia muito tempo usar uma forma humana ao invés de uma mente
demoníaca. No entanto, eram os resultados que contavam. A interferência oportuna de
Sheba tinha impedido que Logan descobrisse seu verdadeiro amor.
“Bem, isso de forma alguma obscurece os seus feitos aqui essa noite.” O tom de Jezebel
era conciliatório. “Faça isso aqui e eles vão te colocar no livros dos demônios bebês”.
“Obrigada”, Sheba estalou. Será que Jezebel realmente achava que podia agradar Sheba
até que ela baixasse a guarda?
Jezebel sorriu, e as névoas dela se enrolaram nos cantos, imitando sua expressão.
“Uma dica, Sheba. Mantenha-os confusos lá dentro. Se você conseguir fazer com que
Cooper puxe o gatilho, talvez você consiga fazer esses aprendizes de gangster pensarem
que estão abaixo do fogo.” Jezebel balançou a cabeça, pensando. “Você tem muito caos
em potencial aqui. É claro, se a coisa ficar muito feia eles vão convocar um demônio de
revolta… mas ainda assim você ganharia crédito por ter começado tudo.”
Sheba fez uma careta, e faíscas de vermelho iluminaram suas orelhas. O que Jezebel
estava fazendo? Qual era o truque? A mente dela percorreu entre os humanos que ela
devia tormentar, mas ela não conseguiu encontrar nenhum traço do sabor distinto de
Jezebel no salão de dança. Não havia nada além da infelicidade que a própria Sheba havia
causado, e os poucos bolsos de felicidade repelente dos quais Sheba cuidaria em pouco
tempo.
“Você certamente ajudou hoje”, Sheba disse, insultando deliberadamente.
Jezebel suspirou, mas havia alguma coisa na forma como a sua névoa se contorceu que a
fez parecer… envergonhada. Pela primeira vez, Sheba sentiu uma pontada de dúvida pelas
suas presunções. Mas os motivos de Jezebel tinham que ser malignos. Esses eram os
únicos tipos de motivos que um demônio tinha.
Com uma expressão sentida no rosto, Jezebel perguntou baixinho, “Será que é tão
impossível acreditar que eu posso querer que você seja promovida?”
“Sim”.
Jezebel suspirou novamente. E de novo, a forma como as névoas dela se contorceram
pesarosamente deixaram Sheba incerta.

“Por quê?” Sheba quis saber. “O que você ganha com isso?”
“Eu sei que é errado - ou melhor, certo - que eu te dê um conselho com o qual você pode
trabalhar. Não é muito mau da minha parte.”
Sheba balançou a cabeça cautelosamente.
“Passar por cima de todo mundo está na nossa natureza, demônios, humanos - até anjos se
tivermos uma chance. Nós somos maus. Nós não seríamos demônios se não deixássemos
inveja, cobiça, luxúria, e ira tomar conta de nós.” Jezebel gargalhou. “Eu me lembro -
quantos anos atrás isso aconteceu? - Lilith quase te fez regredir algumas séries, não foi?”
Fogo vermelho apareceu nos olhos de Sheba com essa memória. “Quase”.
“Você lidou com isso melhor do que a maioria. E você é uma das que melhor trabalha com
a infelicidade, sabe.”
Agrados de novo? Sheba enrijeceu.
Jezebel fez suas névoas se contorcerem com um dedo, e depois circulou esse dedo até que
as névoas desenharam uma órbita fumacenta no céu noturno.
“No entanto há uma imagem maior, Sheba. Demônios como Lilith não conseguem ver
além do mau que têm em mãos. Mas existe um mundo inteiro lá fora, cheio de humanos
tomando milhões decisões a cada minuto do dia e da noite. Nós só podemos estar lá pra
balançar uma fração dessas decisões. E às vezes, bem, do lugar onde eu estou, parece que
os anjos estão tomando a dianteira…”
“Mas, Jezebel!” Sheba resfolegou, o choque quebrando suas suspeitas. “Nós estamos
ganhando. Assista os noticiários - é óbvio que estamos ganhando.”
“Eu sei, eu sei. Mas mesmo com todas as guerras e destruição… é estranho, Sheba. Ainda
existe muita felicidade por aí. Pra cada assalto que eu transformo em assassinato, um anjo
em outra parte da cidade faz com que um passante pule no assaltante para salvar o dia. Ou
pra convencer o assaltante a desistir de seus dias de maldade! Ugh! Estamos perdendo
terreno.”
“Mas os anjos são fracos, Jezebel. Todo mundo sabe disso. Eles são tão cheios de amor
que não conseguem se concentrar. Na metade do tempo aqueles idiotas com cérebro de
pássaro estão se apaixonando por humanos e trocando suas asas por um corpo humano.
Por que razão um anjo idiota iria querer fazer isso!” Sheba fez uma careta olhando para a
sua forma humana. Tão limitada. “Eu nunca realmente entendi a necessidade de essas
coisas por meio milênio. Eu acho que provavelmente isso é só pra nos torturar, não é? Os
lords da escuridão gostam de ver a gente se torcendo.
“É mais do que apenas isso. É para fazê-la realmente odiá-los. Os humanos, eu quero
dizer.”
Sheba a encarou. “E por que eu precisaria de uma razão? Ódio é o que eu faço.”
“Acontece, sabe.” Jezebel disse lentamente. “Os anjos não são os únicos a abrir mão de
tudo. Existem demônios que trocaram seus chifres por um humano.

“Não!” Os olhos de Sheba arregalaram, e aí se estreitaram em descrença. “Você tá
exagerando. De vez em quando um demônio se diverte com um humano, mas é só para
atormentá-los. Só um pouco de diversão maliciosa.”
Jezebel gemeu, desenhando oitos com suas névoas, mas ela não discutiu. Foi isso que fez
Sheba se dar conta de que ela estava falando sério.
Sheba engoliu com força. “Uau.”
Ela não conseguia imaginar isso. Pegar toda essa deliciosa maldade e jogar fora.
Desisitir de um par de chofres ganhos com muito sacrifício - chifres que Sheba destruiria
qualquer coisa para ter nesse exato momento - e em troca, se prender a um corpo fraco,
totalmente mortal. Sheba olhou para os chifres de ônix brilhantes de Jezebel e fez uma
careta. “Eu não entendo como alguém poderia fazer isso”.
“Lembra-se do que eu disse sobre os anjos? Se distraindo com o amor?” Jezebel
perguntou. “Bem, ódio pode ser uma distração também. Olhe pra Lilith com suas boas
ações rancorosas. Talvez isso comece como uma afronta aos demônios, mas quem sabe
onde isso vai dar? A virtude corrompe.”
“Eu não acredito que umas piadinhas contra outros demônios poderiam fazer você tão
estúpida quanto um cérebro de pássaro”, Sheba resfolegou.
“Sheba, não subestime os anjos”, Jezebel repreendeu. “Não brinque com eles - você está
entendendo? Até mesmo um meio demônio forte como eu sabe que não se deve virar os
chifres para as asas deles. Nós ficamos longe de nós, e nós ficamos longe deles. Deixe que
o Lorde dos Demônios cuide dos anjos.”
“Eu sei disso, Jezebel. Eu não fui gerada nessa década”.
“Desculpa. Eu estou ajudando de novo.” Ela ergueu os ombros. “É que eu fico tão
frustrada às vezes! Bondade e luz por todos os lados!”
Sheba balançou a cabeça. “Eu não vejo isso. Infelicidade está por todos os lados.”
“Felicidade também está maninha. Está em todo lugar.” Jezebel disse tristemente.
Ficou silencioso por um longo momento enquanto as palavras de Jezebel permaneciam no
ar. A brisa pegajosa passou pela pele de Sheba. Miami não era o inferno, mas pelo menos
era confortável.
“Não no meu baile!” Sheba respondeu com fúria repentina.
Jezebel deu um grande sorriso - os dentes dela eram pretos como o céu da noite. “É isso ai
- é por isso que eu estou ajudando de forma tão não-condenável. Porque precisamos de
demônias como você por aí. Precisamos do pior que a gente possa conseguir nas nossas
linhas de frente. Deixe que as Liliths do sub mundo fiquem fazendo suas brincadeirinhas.
Deixe que as Shebas fiquem do meu lado. Me dêem milhares de Shebas. Vamos vencer
essa briga de uma vez por todas.”

Sheba considerou isso por um momento, pesando o penetrante propósito na voz de
Jezebel. “Isso é mau de uma forma tão estranha. Isso quase soa como algo bom.”
“Esquisito, eu sei.”
Elas riram juntas pela primeira vez.
“Bem, volte lá e destrua aquele baile”.
“Tô dentro. Vai pro inferno, Jezebel”.
“Obrigada, Sheeb. O mesmo pra você”.
Jezebel piscou uma vez, e aí deu um sorriso ainda maior até que o negro dos seus dentes
parecia ter tomado conta de todo o seu rosto. Ela evaporou na noite.
Sheba permaneceu no beco sujo até que o delicioso cheiro de enxofre tivesse desaparecido
completamente, e aí a hora do recreio acabou. Revigorada pela idéia de se juntar às linhas
de frente, Sheba voltou correndo para a sua infelicidade.
O baile estava em força total, e tudo estava dando certo.
Celeste estava pontuando alto em seu jogo malicioso; ela deu um ponto a si mesma por
cada garota que estava chorando nos cantos do salão. Dois pontos para cada garoto que
dava um soco na cara do rival.
Em todo o salão, as sementes que Sheba plantou estavam florescendo. Ódio estava
crescendo junto com luxúria e raiva e desespero. Um jardim vindo diretamente do inferno.
Sheba aproveitou tudo isso por trás de uma palmeira num jarro.
Não, ela não podia forçar os humanos a fazer nada. Eles tinham seu inato livre arbítrio,
então ela podia apenas atentar, podia apenas sugerir. Coisas pequenas - saltos e costuras e
pequenos grupos musculares - ela podia manipular fisicamente, mas nunca podia forçar
suas mentes. Eles tinham que escolher ouvir. E essa noite, eles estavam ouvindo.
Sheba estava dando um laço, e ela não queria perder as pontas, então, antes de das as
costas ao seu esquema mais ambicioso - agora, de tão intoxicado, Cooper estava flexível,
pronto para as ordens dela - ela fez com que seus pensamentos procurassem aqueles
pequenos e irritantes pontos de felicidade no meio da multidão.
Ninguém ia sair desse baile sem levar uma marca. Não enquanto Sheba tivesse uma faísca
em seu corpo.
Bem ali - o que é isso? Bryan Walker e Clara Hurst estavam olhando apaixonadamente
dentro dos olhos um do outro, totalmente sem noção da ira e desespero e da música ruim
que os cercavam, eles apenas aproveitavam a companhia um do outro.
Sheba considerou suas opções e decidiu que faria Celeste interferir. Celeste gostaria disso
- nada era mais maldosamente divertido do que mostrar o seu poder bem na cara do puro
romance. Além do mais, Celeste ouvia cada sugestão que Sheba dava, concordando
inteiramente com o seu esquema demoníaco.

Sheba continuou com a sua avaliação antes de agir.
Não muito longe, Sheba descobriu que deixou a bola cair de forma indesculpável. Aquele
era Logan, seu próprio acompanhante, realmente se divertindo? Impossível. Então, afinal
de contas ele encontrou sua Libby e eles dois estavam inaceitavelmente felizes. Bem, isso
podia ser facilmente ratificado. Ela ia reclamar o seu parceiro e faria Libby sair correndo
em lágrimas. Amador e inútil intervir com um corpo… Ainda assim, era melhor do que
deixar a felicidade vencer mesmo que fosse uma pequena batalha.
O trabalho de Sheba estava quase completo. Havia apenas mais um pouco de paz - dessa
vez não era um casal; era um garoto solitário vagando no corredor que ficava no fundo do
salão. Aquele chato do Gabe Christensen.
Sheba fez uma careta em sua direção. Qual era o motivo dele pra estar feliz? Ele estava
rejeitado e inteiramente sozinho. A acompanhante dele era o motivo de escárnio do baile.
Um garoto normal estaria cheio de raiva e dor nesse momento. Mas ele insistia em fazê-la
trabalhar mais! Sheba inspecionou Gabe mais de perto. Hmm. Gabe não estava realmente
feliz. De fato, ele estava intensamente preocupado no momento, procurando por alguém.
Celeste estava claramente visível para ele, dançando uma música lenta de Rob Carlton
(Pámela Green olhava a cena com olhos chocados, desespero se misturando
deliciosamente com o ar ao seu redor), mas ela não era a fonte de preocupação de Gabe.
Havia mais alguém que ele queria encontrar.
Então ele não estava feliz - essa não era a sensação que havia invadido a atmosfera de
infelicidade de Sheba. Era a própria bondade que estava exalando do corpo dele. pior
ainda.
Sheba se escondeu atrás da palmeira e ficou com seus pensamento. Fumaça saiu de suas
narinas. “Gabe”.
Gabe balançou a cabeça ausentemente e continuou sua busca.
Ele esperou meia hora enquanto manadas de garotas saiam do banheiro, uma após a outra.
Aqui e ali Gabe sentia uma leve sensação, mas nada era parecido com a necessidade
avassaladora, sufocante daquela garota.
Quando três grupos separados chegaram e saíram, Gabe parou Jill Stein para perguntar
pela garota.
“Cabelo preto e vestido vermelho? Não, eu não vi ninguém assim lá dentro. Eu acho que o
banheiro está vazio.”
De alguma maneira, a garota deve ter passado por ele.
Gabe tinha acabado de voltar para o salão de dança , pensando na garota misteriosa. Pelo
menos Bryan e Clara e Logan e Libby estavam se divertindo. Isso era bom. O resto da
classe parecia estar tendo uma noite particularmente horrível.
E então, aí aconteceu de novo. A cabeça de Gabe deu um salto, sentindo o desespero pelo
qual ele esteve procurando. Onde ela estava?

Sheba assobiou em frustração. A mente do garoto estava inteiramente sóbria e
singularmente fechada para sua voz insidiosa. Bem, isso não ia pará-la. Ela tinha outras
ferramentas.
“Celeste”.
Estava na hora de a garota atormentar seu próprio acompanhante.
Sheba se inclinou levemente em Celeste, sugerindo que ela tomasse esse caminho. Afinal,
Gabe era atraente para os padrões humanos. Certamente bom o suficiente pra Celeste,
cujos padrões não eram muito rigorosos. Gabe era alto e um pouco musculoso, com
cabelos escuros e feições simétricas. Ele tinha olhos azuis pálidos que Sheba,
pessoalmente, achou um pouco repulsivos - eles eram tão decididamente bonzinhos, quase
celestiais, ugh! - mas isso era atraente para garotas humanas. Foi olhar naqueles olhos
claros que fez Celeste responder sim ao seu convide cheio de boas intenções.
Boas intenções, realmente. Os olhos de Sheba se estreitaram. Gabe já tinha estado em sua
lista antes dele insistir em desconsiderá-la no baile. Esse foi o mesmo garoto que arruinou
os planos dela para aquele verme em forma de professor de matemática - só um pouco de
diversão pré-baile que Sheba havia enquanto fazia com que todo mundo escolhesse o par
errado para o grande baile. Se Gabe não tivesse confrontado o Sr. Reese em seu momento
crítico de tentação… Sheba apertou os dentes e faíscas saíram pelos seus ouvidos. Ela teria
arruinado o homem e a garota impossivelmente inocente também. Não que o Sr. Reese
tivesse muita reputação a perder, mas teria sido um escândalo fantástico. E agora o
professor de matemática estava sendo particularmente cuidadoso, tomando cuidado com
aqueles olhos azuis como o céu. Se sentindo culpado, até. Considerando procurar ajuda
pra resolver seus problemas, ugh!
Gabe Christensen estava devendo um pouco de infelicidade a Sheba. E ela ia cobrar.
Sheba encarou Celeste, se perguntando por que a garota não havia se movido na direção
do seu acompanhante. Celeste ainda estava atracada com Rob, aproveitando a dor de
Pámela. Basta de diversão! Havia caos pra promover. Sheba sussurrou sugestões na mente
de Celeste, empurrando-a na direção de Gabe.
Celeste se afastou de Rob e olhou na direção de Gabe, que ainda estava caçando na
multidão com o olhar. Seus olhos marrons se encontraram com os dele só por um segundo,
e ela se moveu, se jogou na verdade, nos braços de Rob.
Estranho, os olhos claros de Gabe pareciam ser tão repelentes para a loira malvada quanto
eram para Sheba.
Sheba se inclinou de novo, mas Celeste - pela primeira vez - a expulsou, tentando distrair
os pensamentos com Gabe nos lábios ansiosos de Rob.
Confusa, Sheba procurou uma outra maneira de destruir o garoto irritante, mas ela foi
interrompida por uma coisa muito mais importante do que um humano bom.

Cooper Silverdale estava simplesmente tremendo de raiva num dos lados da pista de
dança, e encarando Melissa e Tyson. Melissa estava com a cabeça no ombro de Tyson e
não tinha consciência do sorriso convencido que Tyson dava na direção de Cooper.
Era hora de agir. Cooper estava considerando tomar outro copo de ponche para afogar sua
dor, e ele estava perto demais de desmaiar pra que Sheba permitisse isso. ela focou nele,
fumaça saindo de seus ouvidos, e Cooper percebeu estupidamente que o ponche verde era
revoltante. Ele não podia mais agüentar. Ele jogou seu copo meio vazio no chão e se virou
para encarar Tyson.
Ela pensa que eu sou patético, disse a voz na cabeça de Cooper. Não, ela nem sequer
pensa em mim. Mas eu posso fazer com que ela nunca mais se esqueça de mim…
A mente dele estava pesada de álcool, Cooper colocou a mão pra trás e passou sua mão no
punho da arma que estava embaixo da sua jaqueta.
Sheba segurou o fôlego. Faíscas saíram de suas orelhas.
E aí, no segundo vital, Sheba foi distraída pelo conhecimento de que alguém estava
olhando pra ela.
Aqui, no salão de baile, aquela mesma necessidade avassaladora, puxando-o - alguém se
afogava, pedia por socorro. Tinha que ser a mesma garota. Gabe nunca sentiu nada tão
urgente em toda a sua vida.
Os olhos dele procuravam desesperadamente pelos casais na pista de dança, mas ele não
conseguia vê-la. Ele passeou na beira da pista, procurando pelos rostos das pessoas ali por
perto. Ela também não estava ali.
Ele viu Celeste com mais um garoto, mas os olhos dele não pararam. Se Celeste não
pedisse uma carona pra casa logo, não havia muito que ele pudesse fazer sobre isso.
Outra pessoa precisava mais de Gabe.
A necessidade chamou a atenção dele novamente, puxou-o com força, e por um momento,
Gabe se perguntou se estava enlouquecendo. Talvez ele tivesse apenas imaginado a garota
no vestido impressionante. Talvez essa sensação de necessidade frenética fosse apenas o
começo de alguma ilusão.
Naquele momento, os olhos de Gabe encontraram o que estiveram procurando.
Se desviando da grande figura amuada de Heath McKenzie, os olhos de Gabe se
prenderam em um pequeno, mas brilhante, flash vermelho. Lá estava ela - meio escondida
atrás de uma árvore falsa, suas orelhas brilhando como pequenas faíscas novamente - a
garota de vestido vermelho. Seus olhos escuros, profundos como a piscina na qual ele
achou que ela estivesse se afogando, encontraram os dele. a necessidade vibrante era uma
aura ao redor dela. Ele não precisou pensar em se mover na direção dela. Ele
provavelmente não teria sido capaz de se parar se quisesse fazê-lo. Ele tinha certeza
absoluta de que nunca tinha visto essa garota antes de hoje à noite; ela era completamente
estranha pra ele.

Seus olhos escuros com formato de amêndoas estavam compostos e cautelosos, mas ao
mesmo tempo, eles choravam por ele. Eles eram o foco da necessidade que ele sentia. Ele
tinha mais capacidade de resistir ao argumento deles do que tinha capacidade de fazer seu
coração parar.
Ela precisava dele.
Sheba observou sem acreditar enquanto Gabe Christensen caminhava diretamente pra ele.
ela viu seu próprio rosto na mente dele e se deu conta de que a pessoa que Gabe estava
procurando era… Sheba.
Ela se permitiu a breve distração - saber que Cooper era inteiramente dele, que alguns
minutos não iam salvá-lo agora - e regozijou com a deliciosa ironia. Então Gabe queria ser
pessoalmente arruinado por Sheba? Bem, ela podia fazer o que ele queria. Saber que ele
mesmo escolheu a infelicidade deixaria tudo mais doce.
Ela se ergueu em seu vestido de couro de cão do inferno, deixando que ele acariciasse seu
corpo sugestivamente. Ela sabia o que qualquer humano do sexo masculino sentia ao
examinar esse vestido.
Mas o garoto enlouquecedor estava com os olhos focados em seus olhos.
Era perigoso olhar diretamente nos olhos de uma demônia. Humanos que não desviassem
o olhar rápido o suficiente podiam acabar apanhados lá. E depois eles ficavam presos,
seguindo a demônia para sempre, queimando por ela…
Prendendo um sorriso, Sheba encontrou o olhar dele, olhando profundamente dentro de
seus olhos da cor do céu. Ainda humano.
Gabe parou a alguns metros da garota, perto o suficiente pra que ele não precisasse gritar
por causa da música alta. Ele sabia que estava encarando-a muito intensamente - ela ia
pensar que ele era um rude, ou algum esquisitão. Mas ela olhou de volta, tão atentamente
quanto ele, seus olhos profundos provando os dele.
Ele abriu a boca para se apresentar, quando de repente a expressão cuidadosa da garota se
transformou em uma de choque. Choque? Ou horror? Os lábios pálidos dela se partiram, e
ele ouviu um breve resfôlego escapar por entre eles. Sua postura rígida se desfez, e ela
começou a ter um colapso.
Gabe pulou em sua direção e a segurou em seus braços antes que ela pudesse cair.
Os joelhos de Sheba falharam quando os fogos dela apagaram. Sua chama interna morreu,
secou, apagou como uma vela deixada no vácuo.
O salão já não estava mais tão frio, e ela não conseguia mais sentir cheiro de nada além de
suor, perfume e do ar-condicionado velho. Ela já não conseguia mais sentir o gosto da
deliciosa infelicidade que ela criou. Ela não conseguia sentir o gosto de mais nada além de
sua própria boca seca.
Mas ela conseguia sentir os braços fortes de Gabe Christensen segurando-a.

O vestido da garota era suave e quentinho. Talvez esse fosse o problema, Gabe pensou
enquanto a puxava pra ele. Talvez o calor na sala lotada fosse demais combinado com esse
vestido. Ansiosamente, Gabe afastou o cabelo sedoso do seu rosto. A testa dela parecia
fria o suficiente e sua pele macia não estava encharcada de suor. Todo o tempo, os olhos
aturdidos dela nunca se apartaram dos dele.
“Você está bem? Consegue ficar de pé? Eu lamento, eu não sei seu nome.”
“Eu estou bem”, a garota disse numa voz baixa, ronronante. Apesar disso, a voz dela
estava tão aturdidos quanto seus olhos. “Eu…Eu consigo ficar de pé”.
Ela ficou de pé, mas Gabe não a soltou. Ele não queria. E ela não estava se afastando. As
mãos pequenas dela estavam descansando nos ombros dele, como se eles fossem parceiros
de dança.
“Quem é você?” Ela perguntou numa voz gutural.
“Gabe - Gabriel Michael Christensen”, ele elaborou com um sorriso. “E você é…?”
“Sheba”, ela disse, seus olhos escuros crescendo. “Sheba… Smith”
“Bem, você gostaria de dançar então, Sheba Smith? Se você se sentir bem o suficiente.”
“Sim”, ela resfolegou meio pra si mesma. “Sim, porque não?”
Os olhos dela nunca deixaram os dele.
Sem se mover de onde eles estavam, Gabe e Sheba começaram a se balançar aos ritmo de
mais uma canção horrorosa. Dessa vez a música horrenda não ofendeu Gabe tanto assim.
Aí Gabe colocou todas as peças juntas. Garota nova. Vestido incrível. Sheba. Essa era a
acompanhante de Logan, aquela que havia o convidado para o baile e depois não quis mais
ter nada a ver com ele. por meio segundo, Gabe se preocupou se era errado da parte dele
roubar a acompanhante do amigo. Mas a preocupação passou rapidamente.
Pra começar, Logan estava feliz com Libby. Não fazia sentido interromper uma coisa que
claramente estava predestinada.
Gabe sempre teve um bom instinto pra isso - as personalidades que deviam ficar juntas,
quais as compatibilidades naturais que os colocariam juntos harmoniosamente. Ele foi
vítima de muitas piadas por causa da coisa de formar casais, mas ele não se importava.
Gabe gostava que as pessoas fossem felizes.
E essa garota intensa com as profundas piscinas nos olhos - Sheba - não pertencia ao
Logan.
A desesperada sensação de necessidade se acalmou quando ele a tocou. Gabe se sentia
muito melhor com ela nos braços - segurá-la parecia ser suficiente pra acalmar o estranho
chamado. Ela estava segura aqui, não estava mais se afogando, não estava mais perdida.
Gabe estava com medo de deixá-la ir, preocupado que a necessidade flamejante
retornasse.

Era uma estranha primeira vez para Gabe, essa sensação de estar exatamente no lugar
certo, de ser o único que pertencia àquele lugar. Não que ele nunca tivesse tido uma
namorada antes - as garotas gostavam de Gabe, e ele teve muitos relacionamentos casuais.
Mas eles nunca duraram. Sempre havia uma outra pessoas cujo lugar era ao lado delas.
Nenhuma delas realmente precisava de Gabe, exceto como amigo. E eles sempre
permaneceram bons amigos.
Nunca foi assim. Era aqui que Gabe pertencia? Protegendo essa garota magra, mantendo-a
a salvo em seus braços?
Era uma bobagem pensar tão dramaticamente. Gabe tentou agir naturalmente.
“Você é nova em Reed River, não é?” Ele perguntou a ela.
“Eu estou aqui há apenas algumas semanas”, ela confirmou.
“Eu acho que não temos nenhuma aula juntos.”
“Não. Eu lembraria se já tivesse ficado perto de você antes.”
Era uma forma estranha de frasear. Ela o olhou nos olhos, suas mãos apertando
gentilmente os ombros dele. instintivamente, ele a puxou um pouco mais pra perto.
“Você está se divertindo essa noite?” Ele perguntou.
Ela suspirou, um suspiro profundo que vinha do centro do seu ser. “Agora estou”, ela
disse, estranhamente sentida. “Me divertindo muito”.
Apanhada! Como uma idiota, uma novata inocente, uma noviça, uma recruta!
Sheba se inclinou para Gabe, incapaz de resistir. Incapaz de querer resistir. Ela olhou para
seus olhos celestiais e sentiu a necessidade mais ridícula de suspirar.
Ela não viu os sinais?
A forma como a bondade em si o cercava como um escudo. A forma como as sugestões
dela ricocheteavam nele sem causar danos. O jeito como as únicas pessoas a salvo das
maldades dela esta noite - aqueles pequenos pontinhos de felicidade que estavam fora de
seu controle - eram as pessoas que ele havia tocado e com quem interagiu, seus amigos.
Apenas aqueles olhos já deviam ser aviso suficiente!
Celeste era mais inteligente que Sheba. Pelo menos seus instintos a mantiveram longe
desse garoto perigoso. Quando ela se libertou de seu olhar penetrante, ela manteve uma
distância segura entre eles. Porque Sheba não compreendeu a razão por trás disso? E o
motivo pelo qual Gabe escolheu Celeste pra começo de história. É claro que ele foi atraído
por Celeste! Tudo fazia sentido agora.
Sheba se movia ao ritmo na música que retumbava no ar, sentindo a segurança do corpo
dele ao seu redor, protegendo-a. pequenos, desconhecidos pontinhos de felicidade
encontraram seu caminho pela sua garganta vazia.
Não - isso não! Felicidade não!

Se ela já estava se sentindo feliz, então as coisas não podiam demorar muito a acontecer.
Não havia nenhuma forma de evitar os horríveis pensamentos sobre amor?
Isso não parecia muito provável quando se estava nos braços de um anjo.
Não um anjo de verdade. Gabe não tinha asas, ele nunca as teve - ele não era um daqueles
cérebros de pássaros que trocaram as penas e uma eternidade por amor humano. Mas um
dos pais dele fez exatamente isso.
Gabe era completamente meio anjo - apesar de não ter a mínima idéia sobre a sua
verdadeira natureza. Se ele tivesse alguma idéia, Sheba teria sido capaz de ouvir isso em
sua mente e de escapar desse divino terror. Agora estava tudo mais que óbvio para Sheba -
perto assim, ela podia sentir o cheiro da pele dele. E, claramente, ele herdou os olhos de
anjo dos pais. Os olhos azul celestiais que teriam sido uma aviso certeiro, se Sheba não
estivesse tão pres ao seu plano maléfico.
Havia um motivo pelo qual até mesmo demônios experientes como Jezebel tinham medo
de anjos. Se era perigoso para um humano olhar nos olhos de um anjo, era
indubitavelmente perigoso para um demônio ficar preso nos olhos de um anjo. Se um
demônio olhar nos olhos de um anjo por muito tempo, pffffffft! - lá se vão os fogos do
inferno e o demônio fica preso até que o anjo desista de salvá-lo.
Porque é isso que anjos fazem. Eles salvam.
Sheba era um ser eterno, e ela estava presa por qualquer que fosse o tempo que Gabe
quisesse prendê-la.
Um anjo completo teria descoberto imediatamente o que Sheba era, e teria expulsado ela
se ele fosse forte o suficiente, ou teria mantido-a cativa, se não fosse. Mas ela não
conseguia imaginar no que uma pessoa com o instinto que Gabe tinha para salvar estaria
sentindo com a presença dela. Inocente do conhecimento que ele necessitava para
compreender, o estado de danação de Sheba deve ter soado como uma sirene.
Ela olhou sem saída para o lindo rosto de Gabe, seu corpo se enchendo de felicidade, e se
perguntou por quanto tempo a tortura ia durar.
Já estava demorando tempo o suficiente para salvar o baile perfeito dela.
Sem o seu fogo infernal, Sheba não tinha nenhuma influência sobre os humanos aqui. Mas
ela ainda estava completamente cônscia, observando sem poder fazer nada e alegre de
forma nojenta, enquanto tudo ia por água abaixo.
Cooper Silverdale resfolegou horrorizado enquanto olhava para a arma brilhando em sua
mão tremente. No que ele estava pensando? Ele enfiou a arma novamente no lugar onde
ela estivera escondida e quase correu para o banheiro, onde ele violentamente vomitou o
ponche na pia.
Os problemas estomacais de Cooper interromperam a luta braçal de Matt e Derek, que
estava começando a esquentar no banheiro masculino. Os dois amigos olharam um para o
outro através dos olhos inchados. Por que eles estavam brigando? Por causa de uma garota
da qual nenhum dos dois gostava? Que estúpido! De repente, eles estavam se interrompendo em sua necessidade urgente de se desculpar. Com sorrisos em seus lábios machucados e braços nos ombros um do outro, eles se dirigiram novamente para o salão de baile.

David Alvarado havia desistido de seus planos de pular em Heath depois do baile, porque
Evie havia o perdoado por ter desaparecido com Celeste. A bochecha dele era macia e
quentinha contra a bochecha dele agora enquanto eles se mexiam ao som da música lenta,
e de jeito nenhum ele ia machucá-la desaparecendo novamente, não importava a razão.
David não era o único que se sentia assim. Como se a música nova fosse mágica ao invés
de insípida, os dançarinos no grande salão se moviam instintivamente em direção à pessoa
com quem deviam ter vindo pra começo de história, a pessoa que transformaria a
infelicidade da noite em alegria.
O Treinador Lauder, solitário e deprimido, tirou os olhos dos biscoitos sem graça e olhou
diretamente nos olhos entristecidos da Vice Diretora Flinkle. Ela parecia solitária também.
O Treinador caminhou em direção a ela, sorrindo hesitantemente.
Balançando a cabeça e piscando os olhos como se fosse alguém tentando escapar de um
pesadelo, Melissa Harris se afastou com um empurrão de Tyson e correu para a saída. Ela
ia encontrar seu casaco e ia chamar um táxi…
Como um elástico que foi puxado além do seu limite, a atmosfera no baile de Reed River
agora voltou procurando vingança. Se Sheba fosse ela mesma, ela teria puxado aquele
elástico até que ele se explodisse em pedacinhos. Mas agora toda a infelicidade e a ira e o
ódio desapareceram. As mentes dos humanos estiveram sobre seu poder por muito tempo.
Com alívio, todos no baile relaxaram e ficaram felizes, agarrando o amor com as duas
mãos.
Até Celeste estava cansada do caos. Ela permaneceu nos braços de Rob, estremecendo um
pouco à memória daqueles perfeitos olhos azuis, enquanto uma música lenta se misturava
com a outra.
Nem Sheba nem Gabe reparavam na mudança da música.
Toda a sua deliciosa dor e miséria destruídos! Mesmo se ela se libertasse, agora Sheba
estava destinada à escola infantil. Onde estava a injustiça?
E Jezebel! Será que ela planejou tudo isso? Será que ela tentou distrair Sheba do fato de
que um perigoso meio anjo estava aqui essa noite? Ou será que ela ficaria desapontada?
Será que ela realmente estava lá para encorajar? Sheba não tinha como descobrir. Ela nem
seria capaz de ver Jezebel agora - se a demônia aos risos ou se estava pesarosa - com seus
fogos extintos.
Enojada consigo mesma, Sheba suspirou de felicidade.
Gabe era simplesmente bom demais. E, em seus braços, ela se sentia boa também. Ela se
sentia maravilhosa.

Sheba simplesmente tinha que se libertar antes que a felicidade e o amor a arruinassem!
Ela ficaria presa com um descendente de divindade com penas nas costas pra sempre?
Gabe sorriu pra ela e ela suspirou de novo.
Sheba sabia o que Gabe estaria sentindo agora. Anjos nunca ficavam mais felizes do que
quando estavam fazendo outra pessoa feliz, e quanto maior é a melhoria no espírito da
pessoa, mais feliz fica o anjo. Tão perfeitamente miserável e condenada quanto Sheba
havia sido, Gabe devia estar voando agora - isso seria quase tão bom quanto ter asas. Ele
não ia querer deixá-la ir embora nunca.
Só havia mais uma chance para Sheba, só uma forma de voltar para o seu lar infeliz,
miserável, flamejante e fedorento.
Gabe tinha que ordenar que ela fosse para lá.
Pensando nas chances que isso tinha de acontecer, Sheba se sentiu muito pior, sentiu uma
onda bem vinda de sua antiga infelicidade. Gabe apertou seus braços ao redor dela
enquanto sentia-a escapulindo, e a infelicidade se transformou em contentamento, mas
Sheba continuou sem poder fazer nada. Ela olhou dentro de seus olhos de anjo cheios de
amor e sorriu como num sonho.
Você é o mau encarnado, Sheba disse a si mesma. Você realmente tem talento para a
infelicidade. Você conhece o sofrimento de trás pra frente.
Você consegue se tirar dessa armadilha e tudo será como costumava ser. Afinal, com toda
a dor e caos que Sheba podia causar, quão difícil poderia ser fazer com que aquele garoto
angelical a mandasse pro inferno?
                                                       THE END

Translate this Page






Partilhe esta Página




Total de visitas: 985